Vasco Lourenço disse que há retrocesso na justiça social nos últimos anos
"Grândola, Vila Morena" mandou as tropas para a rua
Presidente da República promete guardar as memórias e as lições do passado colonial
Foto: Miguel A. Lopes - Lusa
"Há 50 anos". A primeira emissão informativa em liberdade
Os lugares por onde passou a revolução
25 de Abril também foi comemorado nas casas onde se exerce o poder político
50 anos depois, a coluna de Salgueiro Maia voltou a sair
Largo do Carmo, epicentro da Revolução
Enquanto as tropas se alinhavam à porta do quartel, lá dentro o pânico estava instalado com uma ordem clara: ninguém podia sair.
A RTP falou com o Coronel Chartier Martins que testemunhou a queda do regime dentro do quartel e ainda com o jornalista Adelino Gomes que durante horas relatou tudo o que aconteceu naquele dia 25 de abril de 1974.
Discursos do 25 de Abril entre críticas ao PR e as ameaças à democracia
Bastonária dos advogados fala em reconhecimento na condecoração do PR aos defensores dos presos políticos
José Sena Goulão - Lusa
A bastonária considera que esta ocasião serve para recordar às novas gerações o legado destes advogados, bem como assinalar a importância da advocacia.
Os 14 advogados condecorados representaram, durante o Estado Novo, os presos da ditadura, nos tribunais plenários de Lisboa e do Porto, criados para julgar crimes que o regime considerava serem contra a segurança do Estado e que davam cobertura à atuação dos agentes da PIDE.
Vítimas da PIDE homenageadas na Assembleia da República
"Quando Abril fica em perigo as pessoas vêm reafirmar o valores da Liberdade"
Foto: António Cotrim - Lusa
Em declarações à Antena 1, Vasco Lourenço sublinha ainda que não é só em Portugal que há interesse em torno das comemorações do Dia da Liberdade.
Milhares de pessoas demoram cerca de três horas a percorrer as ruas da cidade, entre a antiga sede da Pide, na rua do Heroísmo e a Avenida dos Aliados.
"Falta garantir esta liberdade". Milhares de portugueses celebraram nas ruas
Foto: Tiago Petinga - Lusa
Presidente pede humildade e inteligência para preferir sempre a democracia
Foto: José Sena Goulão - Lusa
Depois de mais de quatro horas o desfile na Avenida chega ao fim
Recordamos o fim do desfile ao som de "Grândola Vila Morena".
Eugénio Ruivo estava preso e conta a emoção de se aperceber do que se passava
As comemorações do 25 de Abril também passam pelo posto de Comando das Forças Armadas
Cabo Verde quer candidatar Tarrafal à UNESCO até 2026
"Da lista atual de sítios classificados como património mundial, apenas 8% são africanos", salientou a presidente do Instituto do Património Cultural (IPC) cabo-verdiano, Samira Baessa, durante a apresentação da estratégia do país para a candidatura do sítio a Património Mundial.
A candidatura, segundo a mesma responsável, decorrerá na categoria cultural e será a primeira transnacional - ao juntar outros paises - de um sítio africano.
Para isso, o país já enviou um memorando de entendimento a Portugal, Angola e Guiné-Bissau, que espera ser assinado até 10 de maio, quando terminam as celebrações dos 50 Anos do 25 de Abril e do encerramento do Campo de Concentração do Tarrafal.
Além do "diálogo" internacional, Cabo Verde quer envolver a sociedade civil para que a candidatura seja "do povo" e para homenagear os antigos presos políticos.
"O trabalho duro será comprovar que o sítio tem valor que ultrapassa as fronteiras nacionais", frisou a presidente do IPC, estimando que o dossiê possa ser submetido na UNESCO entre 2025 e 2026.
"Será um processo relativamente complexo e longo", avisou Samira Baessa, vincando que será uma "candidatura vencedora" e que vai "valorizar a memória".
A presidente do IPC apontou como "condições básicas" da candidatura, a classificação do sítio a património nacional, em 2004, a sua integração na lista indicativa de património da UNESCO, bem como a sua reabilitação e musealização e a "convergência de vontade" com os quatros países.
Quanto aos procedimentos, avançou que será publicada no Boletim Oficial a intenção formal da candidatura, a formalizar junto ao centro do património mundial e será pedida assistência técnica internacional.
Durante a cerimónia de apresentação, que aconteceu hoje, no antigo campo e que contou com a presença do ministro da Cultura cabo-verdiano, Abraão Vicente, os Correios de Cabo Verde lançaram um selo postal alusivo aos "50 Anos do 25 de Abril e da Democracia", em parceria com Portugal, e que tem um cravo como elemento identificador.
Os presidentes de Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau e Portugal, os quatro países de origem dos presos, celebram a 01 de maio os 50 anos da libertação do Tarrafal -- uma placa memorial no local assinala os nomes dos 36 mortos pela ditadura colonial portuguesa.
A maioria, 32 mortos, eram portugueses que contestavam o regime fascista, presos na primeira fase do campo, entre 1936 e 1956.
Reabriu em 1962 com o nome de Campo de Trabalho de Chão Bom, destinado a encarcerar anticolonialistas de Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde -- e onde morreram dois angolanos e dois guineenses.
Ao todo, mais de 500 pessoas estiveram presas no "campo da morte lenta".
Alfredo Cunha, um dos mais célebres fotógrafos do 25 de Abril regressa aos mesmos lugares
PS, BE, PCP e IL enaltecem participação massiva no desfile em Lisboa
O líder socialista falava aos jornalistas no desfile popular que assinalou os 50 anos do 25 de Abril de 1974, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, onde se juntou a vários militantes da Juventude Socialista, já sem o fato e gravata que usou na cerimónia solene comemorativa no parlamento, mas mantendo o cravo ao peito.
Pedro Nuno Santos manifestou-se confiante de que o PS vai vencer as eleições europeias de junho e que irá ganhar novamente umas legislativas - "e não há de faltar muito" -- apesar da "viragem à direita", e salientou que os cidadãos ainda "enfrentam muitos problemas" no estado social, nos serviços públicos ou na habitação.
"Mas é o PS e a esquerda no geral que está mais preparada para dar resposta a esses problemas, não é a direita, nunca foi a direita. Nós governamos para a maioria do povo, a direita para a minoria", criticou.
Mais atrás, na reta final do desfile, como tem sido habitual, uma comitiva da Iniciativa Liberal também se juntou à manifestação popular, com Rui Rocha a lembrar que o seu partido participa neste momento desde que foi fundado, "mesmo quando quiseram tentar que não" estivessem.
O liberal saudou a participação cidadã no desfile, considerando-a "um bom sinal".
"O 25 de Abril é uma data determinante da liberdade e, portanto, ver tantos portugueses que se juntam em festa, com diferentes visões políticas, com diferentes visões para o país, que se juntam para celebrar essa data que une os democratas e os que amam a liberdade, isso é fantástico", defendeu.
Ladeado do antigo líder da IL e atual cabeça-de-lista para as eleições europeias, João Cotrim de Figueiredo, Rui Rocha pediu que a participação no desfile desta tarde se reflita na votação de junho, esperando que haja também uma "enorme participação".
Contrariamente a Pedro Nuno Santos, Rui Rocha considerou que ainda faltará muito tempo "até os portugueses esquecerem todas as consequências da governação socialista".
À esquerda, a coordenadora do BE Mariana Mortágua, rejeitou estar perante uma manifestação mas sim "uma ocupação pela liberdade", falando num "país inteiro que saiu à rua".
"Há uma maioria de gente que sai à rua nos 50 anos e não é só para celebrar o 25 de Abril, para marcar um dia simbólico, é para marcar uma posição: para dizer que em Portugal a democracia não se negoceia, a democracia não está em causa, há uma maioria de pessoas que apoia a democracia, que defende a democracia, que acha que é o melhor sistema para Portugal", considerou.
"Acredito que hoje tanta gente saiu à rua nas suas diferenças políticas, ideológicas, mas para afirmar esse princípio fundador: da igualdade, da liberdade, da justiça e da democracia", disse.
Também o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, enalteceu a participação massiva, expressiva" e até "emotiva" manifestada pelos cidadãos, classificando-a como "uma grande afirmação de Abril".
O comunista alertou que ainda subsistem problemas no acesso à saúde, educação, e na habitação.
"Há aqui uma afirmação de Abril e, simultaneamente, da exigência que se cumpra Abril na vida das pessoas", afirmou.
ARL/MCA/FAC // SF
Lusa/Fim
Marcelo Rebelo de Sousa encerra Sessão Evocativa
Há 50 anos, "a liberdade renascia contra a repressão" e "a descolonização encerrava cinco séculos de império", afirma o presidente da República Portuguesa.
Ramos Horta realça que portugueses aceitaram a independência das colónias
O presidente da República de Timor- Leste elogiou a tenacidade e coragem da luta contra o regime de ditadura em Portugal, mas também nas colónias, e elogiou o facto de depois da revolução não houvesse ódios e vinganças. "A reconciliação foi um processo natural", frisou.
Portugal soube reconhecer a derrota colonial e que a reconciliação com os países vencedores aconteceu rápida, imediata e naturalmente.
"Os portugueses souberam reagir às mudanças sem ódio nem vinganças, sem fuzilamentos, sem guerra civil, aceitaram as independências e lutaram connosco pelo longínquo Timor", disse Ramos-Horta durante a sua intervenção na cerimónia de comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, que juntou todos os presidente dos países africanos lusófonos, hoje em Lisboa.
"[Os portugueses] não viraram as costas, e as sociedades e os líderes das novas nações independentes souberam igualmente, com verdadeira grandeza de vencedores, saudar Portugal e as relações de amizade foram consolidadas", acrescentou o chefe de Estado timorense, notando que "a normalização das relações com o antigo poder colonial foi imediata, a reconciliação foi natural e o processo foi célere".
Na intervenção, Ramos-Horta fez a distinção entre o Portugal antes da revolução, "asfixiado e isolado", com o país que se seguiu, exclamando: "Quanto mudou para melhor, para muito melhor, em todas as vertentes!".
Criticando as guerras que ocupam as primeiras páginas dos jornais "e as outras em todo o mundo que não chegam à comunicação social", Ramos-Horta disse que a cerimónia de hoje em Lisboa "honra a coragem de quem lutou pela liberdade e renova os compromissos com valores democráticos que definem as nossas nações".
Na intervenção feita esta tarde em Lisboa, o Presidente timorense disse ter "orgulho nos PALOP" (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa) e disse que os timorenses são "eternamente gratos pela fraterna solidariedade durante os anos negros da jornada pela independência".
Com Lusa
Carlos Vila Nova. "Não nos é permitido falhar" na defesa da democracia
"Nossos povos sempre lutaram pela liberdade, justiça e democracia", lembra Filipe Nyusi
Falando durante a sua intervenção na cerimónia que assinala os 50 anos do 25 de Abril, e que junta no Centro Cultural de Belém os Presidentes dos países das antigas colónias, com exceção do Brasil, representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Filipe Nyusi afirmou que esta efeméride é "a celebração da vitória numa luta partilhada".
No discurso, o chefe de Estado moçambicano vincou que quem estava em guerra não eram os povos português e moçambicano, mas sim soldados que eram obrigados a cumprir ordens "de um regime fascista" de que os jovens tinham dificuldade em escapar, por um lado, e um povo unido pelo desejo de liberdade, do outro.
"Apreciamos a postura dos líderes da nova geração portuguesa, pautada por elevada estatura moral e humanismo", disse Nyusi, acrescentando que "Portugal reconhece erros cometidos contra os povos que lutaram pela liberdade, erros que são indesculpáveis, desonram a nossa história e merecem a condenação de quem respeita a vida e a dignidade humana".
Isso, no entanto, não afasta as boas relações entre Portugal e os países da lusofonia, continuou Nyusi, apontando como exemplo o facto de os presidentes dos países africanos lusófonos terem todos aceitado o convite para vir a Lisboa celebrar o 25 de Abril.
"O convite para vir aqui é muito propositado, mas mesmo não sendo convidado, eu vinha na mesma, como se faz nos aniversários de família", gracejou Nyusi, logo no início da intervenção, que surge na mesma semana em que uma delegação de mais de 80 empresários moçambicanos esteve na região do Porto, Sines e Lisboa para fomentar os negócios entre os dois países.
"A presença em massa dos nossos países para celebrar o 25 de Abril evidencia que os povos lusófonos estão unidos por histórias comuns, os laços entrelaçam-se e cristalizam-se, e Marcelo Rebelo de Sousa está de parabéns por juntar a família que ontem lutou pelo sorriso das crianças de hoje", disse Nyusi, concluindo: "Os moçambicanos estão aqui para reafirmar o seu interesse em continuar a fortalecer relações de amizade com o povo português e com os outros povos irmãos da lusofonia, estaremos juntos para sempre".
Presidente da Guiné-Bissau. "Um feito histórico inesquecível"
Sissoco Embaló recordou que há 50 anos, quando se deu o 25 de Abril, o "povo guineense em luta - dirigido pelo Partido Africano para a Independência da Guin+é e Cabo Verde (PAIGC) de Amílcar Cabral - já tinha proclamado unilateralmente a sua própria independência nacional, o seu próprio Estado" e este "evento histórico relevante" em 24 de Setembro de 1973, foi reconhecido "por uma larga maioria" dos membros da ONU.
"A evocação da Revolução portuguesa do 25 de Abril convoca imediatamente para uma reflexão conjunta das lutas de libertação nacional dos nossos povos", disse Embaló, sublinhando a ocorrência de "dois processos históricos que se cruzavam".
Estes dois processos, disse, "tinham em comum uma mesma aspiração", liberdade e libertação nacional, pelo que não foi "de estranhar que uma convergência estratégica -- entre os combatentes contra o Império e os combatentes contra a ditadura - começasse a ganhar, pouco a pouco, maior densidade, maior força".
Sissoco Embaló discursava em Lisboa durante a sessão comemorativa do 50.º aniversário do 25 de Abril de 1974, que contou com a participação de chefes de Estado dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste.
"A memória coletiva dos nossos povos guarda uma certeza inabalável: a revolução do 25 de Abril de 1974 acabou com a guerra", sublinhou ainda, recordando que esta começou em Angola, se estendeu à Guiné e, depois, a Moçambique.
"De facto, acabar com a guerra foi o propósito primordial que animou os Capitães de Abril", e "tratou-se, sem dúvida, de um feito histórico inesquecível", declarou.
Foi também o 25 de abril, disse ainda, que "abriu caminho à implementação do conceito de descolonização consagrado na Carta da Organização das Nações Unidas", recordando, porém, que, não obstante o "sucesso de abril", "foi preciso vencer ainda muitas resistências", ilustradas pelo facto de Portugal apenas proclamar oficialmente o princípio da autodeterminação das suas ex-colónias "em 27 de julho de 1974 - três meses após a revolução do 25 de Abril".
José Maria Neves. 25 de Abril "pôs termo a um colonialismo serôdio"
"No dealbar do século XXI, surgem sinais que despertam, naturalmente, muita preocupação. Há um sentimento de que a democracia está a ser carcomida, assiste-se a um recuo efetivo e a fortes ameaças", disse.
Para José Maria Neves, "a globalização tem conduzido ao empobrecimento e compressão da classe média, nos países desenvolvidos, e ao aumento das desigualdades entre e nos diferentes países".
"Tem havido, por outro lado, um aumento da polarização social e política -- os consensos são cada vez mais difíceis -, a fragilização das instituições que são importantes instrumentos de intermediação entre o Estado e a sociedade e participantes destacados na formação de políticas públicas", disse.
E acrescentou que se constata ainda "uma manifesta incapacidade dos governos em responder à complexidade da ecologia política e às demandas e exigências dos cidadãos e da sociedade civil".
"Se nos países desenvolvidos tal quadro tem possibilitado o alastramento do populismo, do nacionalismo, da xenofobia, do racismo, do repúdio a imigrantes, e adubado a crise dos partidos políticos, a pregação da antipolítica e do antiliberalismo, bem como de teses negacionistas, a disseminação de `fake news` e do discurso do ódio, nos países pobres, onde as instituições são mais débeis, tem resultado em ruturas constitucionais e na assunção do poder pelos militares", observou.
Para o chefe de Estado e antigo primeiro-ministro cabo-verdiano, "é notório um certo desencanto e uma degenerescência dos partidos políticos tradicionais, da política e dos políticos".
"Os eleitores mostram-se cada vez mais céticos sobre a saúde das suas democracias e questionam se os seus governos foram eleitos de forma transparente", prosseguiu.
Para José Maria Neves, "com a revolução dos cravos, inaugurou-se uma nova era, muito na linha do sonho de Amílcar Cabral, cujo centenário [do nascimento] se celebra este ano".
"Conquistada a independência, deveriam ser construídas as mais sólidas e especiais relações de amizade e cooperação entre estes novos países e o Portugal democrático. Ainda bem que o relógio da história avançou e se inaugurou um novo tempo, com vontade mútua, infelizmente não muito comum nos tempos que correm, de reforço contínuo das relações".
"Meio século depois desse fantástico acontecimento histórico, temos todos razões de orgulho e reconforto. Caiu um regime que a todos oprimia e nasceram novos Estados soberanos", disse.
João Lourenço, presidente de Angola. "A nossa causa era a mesma do povo português, juntos lutámos e juntos vencemos"
Uma dezena de angolanos critica presença de PR João Lourenço nas comemorações
"Estou aqui para mostrar o meu descontentamento com o facto de Portugal convidar o Presidenta da República de Angola, uma vez que João Lourenço é antidemocrata e um ditador, e no entanto é convidado para a festa da democracia", disse à Lusa a manifestante Finúria Silvano, que em conjunto com cerca de uma dezena de manifestantes entoavam "Lourenço é ditador".
"Em Angola não temos condições nenhumas, e o Presidente vem aqui, desfila, gasta um balúrdio só para a viagem, enquanto há pessoas a morrer nos hospitais por falta de medicamentos, não há educação, não há saneamento, nós não temos nem o básico", disse a manifestante, considerando que Portugal está a legitimar um ditador pelo convite para a celebração dos 50 anos do 25 de Abril, numa cerimónia que decorre no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
João Lourenço, concluiu, "só ganhou as eleições metendo armamento na rua, há fotos, não podemos sair para manifestações senão morríamos, em Angola se alguém fala uma verdade, é morto, não há democracia, não há liberdade de expressão, as televisões são compradas e temos de fazer tudo nos nossos telefones, felizmente há internet, porque se isto [a conversa com a Lusa] fosse em Angola, não podíamos falar, já havia tiros e alguém já estava na cadeira".
Entre as várias palavras de ordem que estes manifestantes iam entoando, ouvia-se também: "Só queremos um pagamento de Portugal, que é Portugal deixar de apoiar Angola e as suas atrocidades", numa aparente resposta às declarações de Marcelo Rebelo de Sousa, na quarta-feira.
"Temos de pagar os custos. Há ações que não foram punidas e os responsáveis não foram presos? Há bens que foram saqueados e não foram devolvidos? Vamos ver como podemos reparar isto", afirmou o Presidente português, citado pela agência Reuters, na terça-feira, num jantar com correspondentes estrangeiros em Portugal.
Chefes de Estado dos PALOP e Timor-Leste com Marcelo na Sessão Evocativa do 25 de Abril
Luís Montenegro abriu ao público as portas da residência oficial
Abriu depois a residência oficial do primeiro-ministro, ao público e saiu pouco depois das 5 da tarde, em direcção ao Centro Cultural de Belém.
Fotógrafo João Pina mostra o seu livro sobre o Tarrafal que marcou a sua história de família
A "Celeste dos Cravos" desce a Avenida aos 91 anos, com a neta e a filha, que faz uma crítica
No desfile participam dezenas de estrangeiros. Para os espanhóis esta é também uma data a recordar
Famílias enchem o Carmo para reafirmar legado da liberdade
Tal como há 50 anos, os blindados chegaram ao Quartel do Carmo, no centro de Lisboa, cheios de pessoas em cima, após completarem o trajeto que os trouxe desde o Terreiro do Paço. Já no local onde se consumou a queda do anterior regime e a vitória dos militares, o povo voltou a sair à rua, de cravos vermelhos nas mãos e no peito.
"É um dia de liberdade, um dia em que temos de dar valor ao que temos hoje. As gerações mais novas não passaram por aquilo que os meus pais passaram e me transmitiram, e o que eu lhes quero passar é que é um dia que tem de ser festejado, um dia de liberdade e de união. Juntamo-nos sempre aqui no Largo do Carmo para comemorar", conta à Lusa Nuno Silveira, acompanhado pela filha a tirar fotos no interior de um camião de transporte militar.
Com 56 anos, guarda desse 25 de abril de 1974 a memória de não ter tido aulas na escola e da surpresa que representou para a família, quando a sua mãe foi chamar o seu tio, que era do exército e ainda estava a dormir quando se dava a revolução. O dia de há 50 anos faz parte do passado, mas também do futuro e Nuno Silveira realça a necessidade de preservar o legado de liberdade e democracia.
"Gostaria de dizer que está seguro, mas neste momento já não tenho certezas e por não ter certezas é que incuto este espírito de liberdade. Temos de manter este espírito de liberdade e democracia, não podemos perder. Através do voto, não os obrigo, mas faço ver a quem pretende votar que nem todos tiveram liberdade para isso", sublinha.
Noutro blindado, Sílvia Ribeiro vai posando para a fotografia do marido ao lado da cadela Mel, imitando tantas outras pessoas ao longo do dia. É um dia muito importante para Portugal e para todos nós. É a liberdade de podermos dizer e fazer o que entendemos", refere.
Aos 43 anos, Sílvia Ribeiro nasceu sete anos depois da Revolução dos Cravos, mas explica que o marido já era nascido e que as histórias das famílias se cruzam com a do 25 de Abril, com um pai que combateu no Ultramar e uma filha prestes a completar 18 anos e a aprender ciência política, depois de crescer a ouvir em casa "desde pequenina" sobre a importância desta data.
Já Graça Vaz, que veio na companhia do marido, da filha e dos netos, lembra-se ainda bem desse 25 de abril de 1974, quando se preparava para mais um dia de trabalho no bar Angola (então na zona dos Anjos) e tinha 25 anos, uma bebé que ainda não tinha três meses de vida e um marido embarcado nos Açores.
"Saí para apanhar o metro em Alvalade, cheguei lá e estava fechado. Estava lá um senhor e disse, `Para onde é que a senhora vai?`, e eu respondi `Vou trabalhar`. O senhor disse assim, `Vá mas é para casa rapidamente, porque está a haver um golpe de Estado`, e eu disse, `O que é um golpe de Estado?`... Então, toca a andar para casa. Estava sozinha e cheia de medo", relembra.
Assume que esteve para não ir às comemorações dos 50 anos do 25 de Abril e que só saiu por insistência da filha. Agora, não se arrepende de ter mudado os planos e destaca a alegria das pessoas na evocação do "dia inicial inteiro e limpo", como descrito pela poeta Sophia de Mello Breyner: "Deve manter-se vivo e continuar, devemos vivê-lo sempre com alegria, como estamos a viver agora".
Se as comemorações são uma revisitação daquele dia do passado, o futuro marcou presença através das muitas crianças e dos muitos jovens que quiseram subir às chaimites para tirar fotografias e aprender um pouco mais sobre o 25 de Abril.
Entre esses jovens está Daniel Ferreira, de 13 anos, que realça o cheiro a gasolina do veículo e a mudança que se operou em Portugal há 50 anos. "[O 25 de Abril] faz 50 anos e é uma data importante para o início da liberdade. Deixámos de ter ditadura e passámos a ter democracia. As pessoas podem votar, têm mais direitos e podem ter a sua opinião. É uma data importante", resume.
A revolução ocorrida há 50 anos teve um grande eco a nível internacional e também hoje não passou ao lado dos muitos estrangeiros que passeiam pelo centro histórico de Lisboa. E se uns estão apenas de visita, outros, como Stepan Franchak, fez de Portugal o seu país para viver e apreendeu já o significado da data.
"Significou a saída da ditadura, o fim do regime de Salazar e o início da democracia em Portugal", afirma o cidadão natural da Ucrânia, há 20 anos a viver cá e que, num português sem mácula, deixa um recado sobre o 25 de Abril: "A liberdade tem de ser merecida. O povo tem de fazer essa gestão e ver se tudo está de acordo com a democracia e a liberdade".
Marcelo recebe no Palácio de Belém
Ferro Rodrigues desce a Avenida como "simples cidadão"
"Contra o regime traidor". Nas comemorações do 25 de Abril há quem proteste
Milhares de pessoas juntam memórias e apelos aos cravos do Desfile da Liberdade do Porto
Sara (4 anos), Nuno (7), Tiago (8) e Vasco (10) -- autores de um cartaz feito a marcador onde se lê "Viva o 25 de Abril = Liberdade" -- atropelam-se para explicar à Lusa o porquê de terem escolhido a palavra "liberdade" para o centro da folha de papel A3.
"Porque antes o país era triste e agora é livre. Porque não se podia falar e porque os policias iam a casa das pessoas buscá-las às quatro da manhã ou mais tarde para as prenderem por pensarem de forma diferente", referem, repetindo as explicações ouvidas em casa.
Chegaram ao Largo Soares dos Reis, no Porto, de onde partiu o Desfile da Liberdade organizado pela Comissão para as Comemorações Populares do 25 de Abril, muito cedo. Querem chegar à Avenida dos Aliados na coluna da frente onde um conjunto de antigos paraquedistas, ao ouvir a conversa, lhes aponta para um edifício.
"E sabem o que era ali? O quartel da PIDE, da polícia política que prendia e torturava pessoas. Nem imaginam quantas pessoas foram ali maltratadas", diz-lhes Francisco Almeida (66 anos).
Foram 7.600, de acordo com Domingos Dias da União dos Resistentes Antifascistas que subiu ao palco do largo para cumprimentar "a moldura humana mais bonita do mundo, a que está de cravo e resiste", disse.
Enquanto isso, o paraquedista sussurra: "[Há 50 anos] vi a alegria de um povo que estava amarrado e amordaçado. Vi rostos com sorrisos de orelha a orelha. Foi o dia mais feliz da minha vida. O mais feliz não, o mais importante, mas acho que o que se fez em Abril de 74 não está a ser levado a sério. Falta habitação e salários dignos".
Ao lado, outros companheiros paraquedistas, Aurélio Soares e Francisco Gonçalves, ambos de 64 anos, que há meio século estavam na escola e foram mandados embora porque, disseram-lhes, "estava a acontecer uma grande revolução em Lisboa, uma coisa muito boa que mudaria Portugal", acrescentam ao rol de lamentos: "Falta saúde, falta justiça".
Há pessoas de todas as idades no Desfile da Liberdade do Porto. Um cortejo que, partindo do largo onde hoje o Museu Militar ocupa as instalações da antiga PIDE, passa pela Avenida Rodrigues de Freitas, Rua D. João IV, Rua de Santo Ildefonso, Rua Passos Manuel, Rua Sá da Bandeira, Praça D. João I, Rua de Rodrigues Sampaio para terminar na Avenida dos Aliados.
O som dos microfones da organização começou a soar às 14:15 com "Quis saber quem sou" de Paulo de Carvalho, musica ouvida ainda a 24 de abril de 1974, às 22:55, que foi exatamente a primeira frase de pendor revolucionário do 25 de Abril de há 50 anos. E o cortejo começou cerca de meia hora depois com "Grândola Vila Morena" a dar o mote.
A música "Sexta-feira" de Boss AC e os versos "É Sexta-feira / Suei a semana inteira / No bolso não trago um tostão / Alguém me arranje emprego / Bom bom bom bom / Já já já já" fazem Andreia Trevisan, que tinha 16 dias de vida quando se deu, há 50 anos, a Revolução dos Cravos dançar.
"Estou muito muito muito feliz. Isto não tem a ver com direita ou esquerda, tem a ver com liberdade" É o país que estás em causa", diz, à Lusa ao lado da irmã e da filha e junto a um grupo de estudantes que empunha cravos e cartazes que mais do que memórias, transmitem apelos.
Rafaela Pinto (21 anos) escolheu a frase: "Discurso de ódio não é liberdade de expressão". À Lusa explica que tem "medo" da confusão entre "opinião" e "discriminação".
"É incrível podermos dizer que temos liberdade de expressão. Agradeço muto aos Capitães de Abril por isso. Mas discurso de ódio não é opinião. Temo pela falta de sensibilidade que cada vez mais se vê em relação às minorias", descreve.
O Desfile da Liberdade do Porto deverá chegar entre as 16:00 e as 16:30 aos Aliados. Lá está previsto que suba ao palco o projeto musical Cara de Espelho, que reúne membros de bandas, como os Deolinda, Ornatos Violeta, Gaiteiros de Lisboa, A Naifa, Humanos e estima-se que as frases de ordem continuem a soar como o incontornável "25 de abril Sempre! Fascismo Nunca Mais!".
Luís Montenegro apela aos jovens para construírem o "Portugal de amanhã"
Luís Montenegro esteve reunido com um grupo de 50 jovens na residência oficial do primeiro-ministro e no final sublinhou a importância de pôr o país, baseando-se nos ideais nascidos há 50 anos, a olhar para o futuro.
Os 50 anos do 25 de Abril serão "um ponto de viragem" para quebrar "um ciclo negativo" dos últimos anos, de "incapacidade de reter em Portugal" o talento dos jovens, garantiu.
O grupo de jovens incluiu o tenista João Sousa, o escritor Afonso Reis Cabral, o cantor Buba Espinho, a comentadora na SIC Maria Castello Branco e elementos das Forças Armadas e forças de segurança.
O primeiro-ministro defendeu que, "mais do que contemplar os 50 anos" que passaram desde Abril de 1974, o Governo está focado "nos anos que vêm aí".
Nesta ocasião, Montenegro reiterou alguns dos compromissos do seu executivo com políticas fiscais e de apoio à compra de casa ou arrendamento pelos mais jovens.
"Temos sobre nós outra responsabilidade enquanto socidedade", de "construirmos em conjunto o Portugal de amanhã", "concentrados e focados nos anos que vêm aí", foram algumas das ideias lançadas por Luís Montenegro.
"Precisamos destes filhos de abril" e de "travar a fuga do nosso capital humano para o estrangeiro", para olhar em frente, afirmou o primeiro-ministros, para "que os jovens portugueses agarrem Portugal" e se coloquem "ao serviço" do país.
É compromisso do Governo dar condições e "garantir que a madrugada libertadora produziu efeito", acrescentou.
"Estamos mais disponíveis do que nunca em dar-vos instrumentos para poderem construir o futuro do país", disse, afirmando-se convencido de que "as políticas públicas podem fazer muito" para reter jovens qualificados em Portugal.
Os jardins de São Bento já abriram ao público e, a meio da tarde, está previsto um concerto com o cantor António Zambujo.
com Lusa
Aguiar Branco prepara-se para descer a Avenida da Liberdade
"A democracia é de uma magnífica fragilidade e, por isso, temos de cuidar dela todos os dias. Depende de nós, só de nós, a construção de uma democracia mais sólida e mais forte. E esta é a mensagem que temos que passar: ninguém fará por nós aquilo que nós não estivermos disponíveis para fazer", defendeu José Pedro Aguiar-Branco.
De cravo na lapela, o presidente do parlamento considerou necessário que os cidadãos sintam "que a participação é uma exigência da democracia".
"Mas isto dá trabalho, é uma exigência de participação, é uma construção permanente", salientou.
Interrogado sobre a sua presença no desfile popular -- que contou com uma participação massiva de milhares de cidadãos na Avenida da Liberdade -- o presidente da Assembleia da República e antigo ministro social-democrata salientou que esta é uma "manifestação popular".
"Faz todo o sentido haver a conjugação das cerimónias na Assembleia da República, enquanto eleitos pelo povo, mas também faz todo o sentido dar um gesto simbólico de aproximação entre eleitos e eleitores, que essa é a verdadeira afirmação democrática. E, por isso, a comemoração é na rua e acho que faz todo o sentido estar enquanto presidente da Assembleia da República aqui junto ao povo", considerou.
Aguiar-Branco insistiu na importância de aproximar eleitores e eleitos, mostrando aos cidadãos o trabalho que é feito no parlamento e que envolve "medidas que mexem com a vida das pessoas", além de alguns debates "mais espetaculares".
Questionado sobre se tem sido difícil manter a urbanidade dos trabalhos parlamentares desde que foi eleito, no final de março, Aguiar-Branco respondeu que não, e que o debate democrático "tem decorrido com elevação".
"Tudo o que é dito na Assembleia em termos de expressão da liberdade de opinião, devemos aplaudir. A casa da democracia é o espaço por excelência da liberdade de expressão. O conteúdo do que cada um diz, desde que se mantenha o exercício da urbanidade, acho que é de aceitar. É o que se espera da democracia, é a liberdade de cada um dizer mesmo que possa dizer qualquer coisa contra a própria liberdade. É isso que distingue a democracia da ditadura", apontou.
Aguiar-Branco encontrou-se momentos mais tarde com o presidente da Associação 25 de Abril, coronel Vasco Lourenço, com quem trocou algumas palavras e iniciou a tradicional descida da Avenida da Liberdade até ao Rossio.
50 anos do 25 de Abril. Portugueses festejam nas ruas - Fotogaleria
PCP considera que PR "passou por cima" das opções políticas que conduziram o país nos últimos 50 anos
O secretário-geral do PCP considerou hoje que o Presidente da República, no seu discurso do 25 de Abril, "passou por cima" das dificuldades que as pessoas atravessam e também "das opções políticas" que conduziram à situação.
Em declarações aos jornalistas no final da sessão solene comemorativa dos 50 anos da Revolução dos Cravos, o comunista afirmou que Marcelo Rebelo de Sousa fez "uma intervenção circunscrita a figuras, nomes, passando por cima de dois aspetos fundamentais, desde logo, das opções políticas que conduziram a estes diferentes momentos que o Presidente caracterizou, e passando por cima de uma realidade concreta da vida das pessoas e das soluções que se abriram com este Abril de 50 anos e que é preciso concretizar".
Paulo Raimundo disse acompanhar o chefe de Estado na "ideia de que a democracia exige que se dê respostas à maioria das pessoas" e defendeu que "isso tem de ser acompanhado de medidas concretas", como "mais salários, acesso ao Serviço Nacional de Saúde, acesso à educação, menos precariedade, menos horários desregulados, menos aquilo que pressiona a vida da maioria da população".
"Nós achamos que o senhor Presidente da República, fazendo uma afirmação genérica sobre as dificuldades em que as pessoas vivem, esqueceu-se de ir ao concreto, passou ao lado do concreto da vida", criticou.
Paulo Raimundo afirmou que nas últimas cinco décadas o país tem vivido "um processo de política de direita com melhorias extraordinárias do ponto de vista do pós revolução, naturalmente, mas que está a trazer e a empurrar para um caminho de acentuar desigualdades" e salientou que Abril "foi feito para dar resposta à maioria e não à minoria".
"E é esse caminho que é preciso ser revertido, é esse ciclo da política de direita que é preciso de uma vez por todas pôr fim, e retomar o caminho de Abril, o caminho da justiça", defendeu, pedindo que os direitos consagrados na Constituição, que "custaram tanto a construir, tenham expressão na vida de toda a gente".
Partidos reagem ao discurso de Marcelo Rebelo de Sousa
Questionado se considera que Marcelo Rebelo de Susa ignorou o Chega no seu discurso, respondeu negativamente, argumentando que "certamente que o Presidente da República já trazia o discurso escrito de casa".
Para o PS, o discurso do 25 de Abril do presidente da República foi de "união em torno destes 50 anos", concordando que "por mais imperfeita que seja a democracia é sempre melhor do que qualquer ditadura".
"O 25 de Abril tem que ser uma data de união, a cerimónia aqui na Assembleia da República representa essa união da democracia e do regime em que vivemos. É este o regime felizmente em que vivemos e que 25 de Abril criou. Quem quer outro regime está no sítio errado", defendeu a líder parlamentar do PS, Alexandra Leitão, em declarações aos jornalistas no final da sessão solene de comemoração dos 50 anos da Revolução dos Cravos.
De acordo com a socialista, foi nessa linha que Marcelo Rebelo de Sousa fez um discurso de "um percurso histórico, de forma analítica destes 50 anos, referindo personalidades de vários quadrantes políticos".
"E nesse sentido foi um discurso de união em torno destes 50 anos", considerou.
Já o líder parlamentar do PSD elogiou o discurso do presidente por evocar as principais figuras da história democrática nacional e salientou os apelos ao diálogo e à construção de políticas públicas.
"Creio que o presidente da República fez um discurso muito abrangente, em que saudou as principais figuras da história democrática portuguesa. Creio que fez bem, porque celebrar os 50 anos do 25 de Abril é também celebrar a História e honrar aqueles que a construíram. Fê-lo de uma forma muito genuína, expressando o sentimento de todos os portugueses", sustentou o presidente da bancada social-democrata.
Hugo Soares apontou também que Marcelo Rebelo de Sousa "tem repetidamente deixado uma mensagem com apelo ao diálogo e à construção de políticas públicas que possam melhorar a vida dos portugueses".
c/ Lusa
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E para garantir que as comunicações funcionavam, os estúdios foram controlados pelo grupo de Comandos de Lamego.
Antes disso, já o Chefe do Estado-Maior da Região Militar do Norte tinha sido detido, também no Porto.
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Ramalho Eanes foi o primeiro Presidente da República eleito depois da Revolução.
E Cavaco Silva que foi o presidente que antecedeu Marcelo Rebelo de Sousa.
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Presidente da Assembleia da República elogia a "coragem" dos Capitães de Abril e nomeia últimas vítimas do regime
Aguiar-Branco disse que se o 25 de abril tivesse falhado, havia várias coisas que poderiam ter ficado pior em Portugal, mas que se isso acontecesse quem de facto sofreriam eram os capitães de Abril que arriscaram sair à rua. "É a definição de coragem", diz o presidente do Parlamento, para a seguir nomear aquelas que foram as últimas vítimas do regime e da polícia política. "É tempo de dizer os seus nomes no Parlamento" e de lembrar que esta revolução não foi feita sem sangue como muitas vezes se afirma.
"Não basta dizer os seus nomes, é preciso expressar gratidão. Esta semana tomei a iniciativa de convidar as famílias para, pela primeira vez, estarem nesta sessão solene. O convite foi para que vissem com os próprios olhos o que o sacrifício dos seus conquistou. A ver-nos e a ouvir-nos. E aqui está, a família de Fernando Barreiros dos Reis", referiu. Palavras que levaram todos os deputados a aplaudirem.
PSD. Jovem deputada pede que se "renove o compromisso com o futuro"
O PSD foi o único que não escolheu o líder do partido para discursar. Chamou Ana Gabriela Cabilhas, de 27 anos, ao Parlamento. A deputada defendeu que os políticos devem estar ao serviço do povo e cabe ao parlamento concretizar as suas legítimas expetativas.
"Abril é mais do que história, Abril é mais do que memória, Abril é vitória. ", diz Pedro Nuno Santos
“Com Abril não conquistámos apenas o direito de votar ou dizer o que pensamos sem medo. Com Abril os portugueses agarraram-se a uma ideia de país, de comunidade democrática, de povo, de prosperidade e de futuro”.
Pedro Nuno Santos lembrou que Portugal quis construir uma democracia plena e uma democracia económica e uma comunidade de liberdade para toda a população. “Abril é mais do que história, Abril é mais do que memória, Abril é vitória”.
“A concretização dos sonhos de Abril é um trabalho imperfeito e ainda inacabado mas os portugueses venceram”.
“Hoje somos também um país de imigração. Há duas formas muito distintas de lidar com esta realidade. E nenhuma delas tem que ver com um slogan vazio das portas fechadas.”
O líder do PS lembrou que os portugueses conquistaram o direito à liberdade, a amarem quem quiserem e de não terem vergonha do que são.
“As mulheres emanciparam-se, libertaram-se e passaram a não ter de pedir licença para procurarem a sua felicidade. A partilha do poder e o fim da hegemonia do homem gera resistência e há quem na direita radical a promova e a explore mas já não há recuo possível. As mulheres em Portugal conquistaram o direito a perseguir os seus sonhos”.
Ventura acusa Marcelo de "trair os portugueses" ao sugerir que Portugal seja responsabilizado pelo passado colonial
O deputado lançou também críticas ao Governo. “Há 50 anos, fizemos uma revolução. E essa revolução deu-nos a liberdade. Mas, ao longo do caminho, foi-nos tirando liberdade. Quem está em casa do que falo: gosta de olhar, fazer a festa, de saber que aqui estamos, mas sabe também que toda a liberdade que conquistámos ora a fomos perdendo, ora a fomos desiludindo”, começou por dizer.
André Ventura referia-se àqueles que “ainda não conseguiram sair do salário mínimo nacional” ou que “ao fim de anos de governação do PS e PSD tiveram de emigrar”.
O líder do Chega disse ainda ser irónico que, nos 50 anos de Abril, haja 50 deputados do seu partido na Assembleia da República.
“Dizia-se que Abril era justiça (…). Neste ano em que estamos, vimos um governo cair precisamente por suspeitas de corrupção”, frisou Ventura.
"História não é dívida, não obriga à penitência", diz Rui Rocha
"E não, senhor Presidente, História não é dívida. E História não obriga a penitência". O dirigente e deputado da Iniciativa Liberal respondia assim às palavras de Marcelo Rebelo de Sousa, que defendeu um pagamento às ex-colónias. "Atenta contra os interesses do país" e "afasta-se de representar a maioria dos portugueses", diz Rocha.
Mortágua alerta para o perigo dos saudosistas
“As carpideiras do salazarismo não tão perigosas pela nostalgia do passado. Não será reconstruído nenhum império, o Tarrafal fechou para sempre, Aljube e Peniche são museus e devem ser visitados”, continuou a bloquista, recebendo aplausos de várias bancadas.
Para a coordenadora do Bloco de Esquerda, “os saudosistas são perigosos porque culpam a democracia e a Constituição pela pobreza que persistiu, pelo amargo das promessas não cumpridas, pela corrupção”.
“Os saudosistas são perigosos porque vivem para a mentira. Saibam, então, que nenhuma mentira ocultará que para Portugal, Abril foi o começo. Abril foi a torrente de alegria, foi a beleza de vencer o fascismo”, vincou Mortágua, falando num “salto assombroso que nos abriu o século XX”.
Paulo Raimundo destaca a referência que constrói o presente e futuro do país
“Consagrou a igualdade entre homens e mulheres e terminou com a guerra”, disse.
O líder do PCP lembrou que Abril trouxe a distribuição da riqueza para os que trabalham e o fim da promiscuidade entre poder político e poder económico. E lembrou que o ciclo de direita tem terminado com Abril.
Paulo Raimundo lembrou ainda Álvaro Cunhal e afirmou que o PCP foi o que esteve na primeira linha de luta contra o fascismo.
“25 de Abril sempre. Fascismo nunca mais. Viva o 25 de Abril!”, concluiu.
Livre. Rui Tavares diz que a nossa Revolução "inspirou o mundo" e foi "a mais bela revolução do século XX"
Rui Tavares lembra que era o "medo que sustentava o regime" ditatorial e que foi o sonho que fez a mudança. Afirma que o 25 de Abril deu a volta ao mundo e marcou a terceira vaga de democratização do mundo. Lembra ainda que para se evitar os "pesadelos do passado", como teve a sua mãe, e para continuar a sonhar abril, temos de encher as conversas de "objetos de desejo político", imaginado novos projetos para o país.
CDS lembra 25 de Abril sem esquecer 25 de Novembro
“A história é a história, e o nosso dever é o futuro construído e alicerçado entre Estados soberanos espalhados pelos quatro continentes”.
“Se, com o 25 de Abril, caiu o Estado novo, o 25 de Novembro trouxe a democracia e a liberdade plenas”, declarou.
PAN. Inês de Sousa Real quer "uma nova música"
A deputada única eleita pelo PAN relembrou as músicas que deram o mote ao início das operações militares da Revolução para concluir que é necessária uma "nova música" que proteja os direitos das pessoas, igualdade e também a natureza, mas que também impeça aqueles que "querem silenciar a voz de abril" e a multiculturalidade.
Canta-se o hino à porta da Assembleia da República
Arquivo de Otelo Saraiva de Carvalho doado ao arquivo Ephemera
São "documentos fundamentais porque têm imensos manuscritos" do próprio e de outras pessoas, "notas de reuniões, correspondência", são "milhares de cartas enviadas a Otelo", afirmou José Pacheco Pereira, fundador do Ephemera, maior arquivo privado em Portugal.
O espólio de Otelo "é enorme", abrange o período inicial de 1974 em que está no Conselho da Revolução, o tempo do COPCON, e, até agora, foram recebidas no Ephemera duas estantes e muitos dossiês.
O historiador e ex-deputado do PSD afirmou que as duas estantes são "uma pequena parte" da documentação e descreve o que viu até agora: "São cartas muito diferentes, vão desde cartas de saudações, de parabéns, cunhas, a ameaças, insultos, informações e denúncias."
Este arquivo, segundo o autor da biografia de Álvaro Cunhal, "é de uma importância enorme", dado que o militar de Abril "tem um papel central na vida politica desde 74 até ao final do século XX".
Otelo Saraiva de Carvalho, acrescentou, "é uma personalidade marcante, primeiro porque é o autor do plano operacional do 25 de Abril, que todos os militares consideram um documento de grande qualidade do ponto de vista estratégico e militar".
"Depois, por todas aquelas vicissitudes do PREC, depois do 25 de Novembro, dos Grupos Dinamizadores de Unidade Popular (GDUP`s -- partido criado em 1976 e extinto no ano seguinte), da candidatura presidencial de 1976 e 1980", acrescentou.
Segundo informação do Arquivo Ephemera, trata-se de "um conjunto vasto e rico de documentação, manuscritos, fotografias, panfletos e brochuras, livros políticos, documentos oficiais de natureza militar e política (muitos deles secretos à altura), ofertas e objetos pessoais".
E "cobrem toda a carreira política e militar de Otelo, desde a sua ação como oficial nos teatros da guerra colonial, a revolução de 25 de Abril e o "ano de brasa" de 1975, o COPCON, as candidaturas presidenciais, os GDUPs, a FUP, a OUT, suas prisões e processos".
Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho nasceu em 31 de agosto de 1936 em Lourenço Marques, Moçambique, e teve uma carreira militar desde os anos 1960, fez uma comissão durante a guerra colonial na Guiné-Bissau.
No Movimento das Forças das Forças Armadas (MFA), que derrubou a ditadura de Salazar e Caetano, foi ele o encarregado de elaborar o plano de operações militares e, daí, ser conhecido como estratego do 25 de Abril. Foi ele, também, um dos militares que esteve no posto de comando de operações no Regimento de Engenharia n.º 1, na Pontinha, nos arredores de Lisboa.
Conotado com a esquerda radical, foi um dos membros do Diretório da revolução, com Costa Gomes, presidente, e Vasco Gonçalves, primeiro-ministro, a partir de maio de 1975.
É preso na sequência dos acontecimentos do 25 de Novembro, confronto entre a esquerda militar e os chamados "moderados", que ditou a normalização do país, e foi libertado depois. Concorre às presidenciais de 1976, conseguindo 16,4% dos votos.
Preso em 1985, em resultado do processo FP-25, organização que reclamou a autoria de vários atentados que fizeram fez 13 mortos ao longo de sete anos, foi condenado e libertado cinco anos depois, em 1989. Em 1996, o parlamento aprovou uma amnistia para os presos das FP-25.
Otelo Saraiva de Carvalho morreu em 21 de julho de 2021.
"Era a primeira vez em 48 anos que se diziam aquelas palavras de ordem". Jornalista Adelino Gomes recorda a revolução
Emocionado, lamenta que tivessem sido "demasiados anos de silêncio", mas recorda que agora "têm sido 50 anos de democracia, que umas vezes é tão entusiasmante, outras vezes tem as suas crises".
"Mas nada substitui a democracia", vinca.
Termina a cerimónia militar no Terreiro do Paço
Municípios dizem que é tempo de "trabalhar ainda mais pela consolidação da democracia"
Na mensagem, a ANMP considera que o país não se pode "distrair com a espuma dos dias", caso contrário "os ideais do 25 de Abril de 1974 podem ser varridos para debaixo de um qualquer tapete e os tempos podem voltar a ser sombrios", salientando que "permiti-lo seria uma traição".
A ANMP recorda que, "antes do tempo que Abril abriu, a maioria da população portuguesa era analfabeta, pobre, não tinha acesso à saúde, à cultura, ao desporto, ao lazer", sendo que, em 50 anos, Portugal "mudou para melhor", principalmente devido ao facto de estar na União Europeia e, por essa via, poder recorrer aos fundos europeus, "e, em grande medida devido ao trabalho de proximidade desenvolvido pelos municípios e pelas freguesias".
Agência Lusa
Cerimónias começam
José Ribeiro. O homem da rádio que sonorizou a madrugada da revolução
“A PIDE tentou sempre dar cabo da família dos Ribeiros. Aliás, o Silva Pais, na altura ainda inspetor das Finanças (último diretor da PIDE/DGS), ia muitas vezes à farmácia do meu pai. O meu pai era proprietário de uma farmácia em Paredes de Coura”.
O primeiro ato político durante a escola primária
Contacto com gente da palavra em Lisboa
No fim dos anos 40, o pai Ribeiro foi preso em Lisboa, ora no Aljube ora em Caxias. A mãe arrastada pela prisão do marido acabou por vir para a capital, seguindo-lhe os filhos. Luís Ribeiro acabou por morrer aos 38 anos, fora da prisão. Zé ainda era adolescente.
Os dias e as noites de Zé levaram-no, cada vez mais, para os encontros antifascistas, muitas vezes vigiados pela polícia politica. Aproximou-o da resistência clandestina e dos que usavam a palavra como arma.
Frequentador das mesmas reuniões ou concertos clandestinos, Zé tornou-se amigo do Zeca. Praticaram judo juntos e conta um dos episódios curiosos sobre a sua amizade. Passou-se na RCP ainda antes do 25 de abril.
Zé não estava a trabalhar nessa madrugada do 25 de Abril de 1974. Foi acordado com um telefonema da Clarisse Guerra (locutora e primeira mulher do RCP que leu comunicados do MFA) para avisar Zé para ouvir o RCP. A emissão deveria estar ocupada com o programa “A noite é nossa” de Ruy Castelar, porém em vez disso, estava a passar marchas militares. De imediato, Zé dirigiu-se à sede da RCP, na Rua Sampaio e Pina.
"Embrulho perfeito"
Se a operação militar arrancou ao toque de "E depois do adeus" e "Grândola Vila Morena", Zé acaba por revelar algumas das faixas que alinhou no gira-discos que composeram o “embrulho mais perfeito” de músicas que podia ter escolhido para marcar a mudança e enviar sinais aos ouvintes dos “Rumos Novos”. As primeiras escolhas passaram pelas palavras musicadas de Zeca Afonso, José Saramago e Manuel Freire, recorda.
Associação de Sargentos apela para a participação no desfile na Avenida da Liberdade
Numa mensagem dos 50 anos do 25 de Abril gravada em vídeo, o presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS), António Lima Coelho, disse que, entre outras razões, "foi também o desejo de alcançar a paz que trouxe a revolução da liberdade" e que, para proteger a liberdade deve ser cuidada a Defesa Nacional, que têm o seu "grande pilar" nas Forças Armadas.
Depois de citar o poema e Sophia de Mello Breyner sobre o 25 de Abril, Lima Coelho lembrou as "condições degradadas" dos homens e mulheres que servem o país nas Forças Armadas, considerando que é obrigação de todos guarnecer "a trincheira da defesa das condições para continuar a servir o país".
"Quando as condições dos homens e mulheres que servem o país nas Forças Armadas estão tão degradadas, e continuam a ser desrespeitadas, quando a liberdade está a ser questionada, quando a paz está tão ameaçada, é dever e obrigação de todos nós guarnecermos a trincheira da defesa das condições para continuar a servir o país, da defesa dos valores da democracia e da liberdade, e , principalmente, dos valores da paz", afirmou.
No vídeo, Lima Coelho apela ainda para a participação na manifestação popular na Avenida da Liberdade e nos eventos que se realizam por todo o país.
"Mas, acima de tudo, participemos diária e ativamente na defesa dos princípios e valores resultantes da Revolução de Abril e que estão plasmados na Constituição da República Portuguesa: a Constituição de Abril", acrescentou.
Considerou que a defesa de melhores condições de vida, dos valores da democracia, da liberdade e da paz são "uma permanente exigência" e disse que os sargentos de Portugal, "confiantes, determinados e unidos", continuarão "a lutar pelos seus direitos, mas, em simultâneo, a pugnar para que o 25 de Abril não se transforme num mero feriado no calendário".
"Viva o 25 de Abril! Viva a liberdade!", disse.
50 anos do 25 de Abril. Outras Estórias do dia da Revolução dos Cravos
O rádio era sempre ligado por volta das seis da manhã, todos os dias. Os pais de Maria João gostavam de ouvir os noticiários ao pequeno-almoço, antes de saírem para a rotina laboral. Naquele dia, começou a “ouvir-se sistematicamente o Paulo de Carvalho” a tocar.
Ao tomar o habitual caminho de casa, em Algueirão, para Lisboa, a família notou que havia movimentações pouco habituais na zona.
“Viemos para Lisboa sempre com o rádio ligado no carro, sem saber o que estava a acontecer. Contudo, sempre com a mesma canção. A famosa música ‘E depois do adeus’”, começou por contar.
Antes de ir para o Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho, o pai deixava a mulher na Casa da Moeda, onde era conferente, e a filha que ficava a aguardar, na zona do Arco do Cego, pela carrinha da escola. O pai de Maria João seguia depois para Alvalade, onde se localizava a empresa onde trabalhava. Naquele dia solarengo de abril, quando atravessavam a antiga autoestrada de Lisboa-Sintra, atual IC19, viram “uma coluna de militares com G3, capacetes, jipes, em toda a linha e em ambos os lados” do Palácio de Queluz.
Pelo caminho, a jovem de 13 anos ia questionando-se porquê que havia militares em Queluz e a rádio só passava a canção do Paulo de Carvalho. Nada sabia, mas hoje reconhece que, na altura, a mãe “tinha um bocadinho a noção daquilo que se passava”, principalmente pelos relacionamentos “que tinha com a Judite Barroso, a Maria Barroso, o Mário Soares, e pessoas dessa geração”.
“A minha mãe tinha um bocadinho a noção do que é que aquilo podia ser, mas não veiculou, ou o que veiculou para o meu pai, eu não percebi”, afirmou.
“Passar pelos militares no Palácio de Queluz (…) não era muito traumático”, declarou Maria João. “Agora quando cheguei à Casa da Moeda e vejo militares de G3 em punho, eu confesso que os meus 13 anos ficaram muito ofendidos”.
Hoje com 63 anos, a jurista recorda a própria reação entre risos e gracejos.
“O curioso é que eu não fiquei com medo. Eu fiquei furiosa”, expressou. “A título de que santo é que nos estavam a receber a nós (…) de armas em punho?!”.Depois daquela receção, Maria João ficou na entrada do edifício a aguardar, como de costume a carrinha para o liceu. E se já estava furiosa, como admitiu, ficou mais inquieta quando os militares se “sentaram nas escadas de pedra com as G3 ao lado, tipo Copacabana”.
“Lembro-me que tremia furiosa. Não me metiam medo, não estava assustada. Mas achava que aquilo era excessivo. Era um teatro tão aparatoso e excessivo para pessoas normais”, descreveu então. “Hoje percebo, mas naquela altura não. (…) Até porque sempre aprendi que [os militares] eram uma autoridade para respeitar. Para mim aquilo era uma contradição de termos”.
Entretanto a carrinha chegou e foi para a escola. No trajeto para o liceu não se recorda de ter notado algo de diferente. Não havia trânsito cortado ou movimentações anormais. Qual não é o seu espanto quando repara que a entrada das alunas para o liceu feminino Maria Amália Vaz de Carvalho estava também cercada por militares com G3.
“Os militares estavam na porta onde nós entrávamos e não nos deixavam entrar e queriam que nós entrássemos pela porta principal [dos professores]”, relatou não escondendo a apreensão que sentiu naquele momento. “Como se não bastasse, vieram dois militares dar-nos ordens como se fossemos da tropa também. (…) Aquilo estava a maior confusão possível”.
Relutante, acabou por seguir os militares, entrar na escola e por ficar com as colegas no pátio interior.
“Não tive aulas. Não vi os professores nem a diretora”, retorquiu, recordando ainda que durante a manhã, os militares que estavam no pátio foram ao ginásio “buscar raquetes e andaram a jogar badminton e pingue-pongue”, deixando as “armas encostadas à parede”. Ação que Maria João ainda hoje considera que foi de alguma irresponsabilidade, porque ninguém sabia o que se passava e algumas raparigas estavam receosas com aquele aparato militar no recinto escolar.
Na escola ninguém “falava de nada, até porque a maioria das pessoas não tinha a noção do que estava a acontecer”. Até porque “a maior parte das miúdas estava aterrorizada, não havia conversas”.
“Naquele dia ninguém falava. E como o corpo docente também não apareceu, acho que acentuou mais as fragilidades”.
O General Francisco da Costa Gomes era primo da madrinha Elisa, como lhe chamava Maria João, e “já lhe teria passado algumas informações”, que por ser ainda jovem não compreendeu logo.
Para Maria João, a revolução foi em parte um “aproveitamento de um grupo de militares, que tinham direito às suas reivindicações”, mas acredita que apesar disso “resultou numa coisa muito positiva”.
“Teve a grande positividade de não haver derramamento de sangue”.
"Amarrámos a professora com a bandeira nacional"
“Isto aconteceu cedo o suficiente para eu não ir às aulas”, brincou.
Embora reconheça que era muito novo, lembra-se de “uma certa apreensão” que se sentia em casa ao longo do dia, enquanto os pais tentavam perceber a situação.
“Não sabiam bem o que é que aquilo ia dar”, referiu. “Mesmo em Algés havia movimentações, qualquer coisa a acontecer”, lembrou-se também, não esquecendo os “jatos das Forças Armadas” que viu passar.
Nos dias seguintes, “as conversas tornaram-se muito mais políticas”. E ao reviver esses tempos, contou que a “a única coisa que fazia era desenhos dos militares e de explosões”.
Agora com 58 anos, o antigo professor de Biologia nos Estados Unidos, destaca que o episódio que mais o marcou aconteceu na segunda-feira seguinte quando voltou à escola.
“Quando voltámos à sala de aula, (…) a professora fez uma sondagem sobre alguns partidos políticos e depois, para simbolizar o fim do Estado Novo, nós agarrámo-la à cadeira com o cordão da bandeira [de Portugal]”, contou com alegria.No pós 25 de Abril, a família de José Pedro enfrentou grandes mudanças, principalmente porque grande parte vivia em Angola.
“Passaram de uma vida bastante boa para uma situação relativamente precária. E isso refletiu-se na família de forma óbvia”.
Além disso, um dos tios tinha sido “um agente de fronteira da PIDE” e por isso “havia uma certa preocupação” quanto ao seu futuro.
Aos oito anos, achava que o que se passava à sua volta e o que via nas notícias era normal.
“Nunca tinha passado por uma revolução, portanto parecia-me uma revolução perfeitamente normal”, concluiu.
O movimento dos capitães de Abril, transformado depois em Movimento das Forças Armadas (MFA), que derrubou o regime ditatorial de 48 anos, fundado por António Salazar, teve como palco principal a cidade de Lisboa. Mas o impacto da Revolução chegou a outras zonas do país.
Em Coimbra, uma cidade onde a agitação política e estudantil já se fazia sentir muito antes daquele mês de abril 1974, há relatos de multidões a sair à rua. E foi desde a janela de casa que Jorge, aos 12 anos, assistiu às celebrações da Revolução de Abril na rua Antero de Quental.
Era um dia normal de primavera, estava sol e Jorge saiu pela manhã em direção ao Liceu José Falcão. Enquanto caminhava pela rua onde cresceu, foi se apercebendo que as “pessoas começaram a juntar-se ao edifício” da PIDE. Vivia, desde 1970, na Antero de Quental, num prédio mesmo em frente à antiga PIDE/DGS de Coimbra, onde foi “praticamente o epicentro das ações do dia 25 de Abril” na cidade.
Quando chegou à escola apercebeu-se de “uns burburinhos, umas conversas sobre um golpe de Estado”.
“Eu tinha 12 anos. Um golpe de Estado, para mim, era uma coisa estranha de ouvir”, descreveu, e embora não soubesse o que se passava em Lisboa, sentia que na “escola já havia agitação”.
Só no regresso a casa à hora de almoço é que teve “alguma dificuldade a passar” na rua até chegar à porta do prédio.
“A tropa já tinha tomado conta desta zona, porque já se começava a acumular aqui uma série de pessoas”, explicou enquanto mostrava o largo que separa a residência da sua família e o edifício da PIDE. “Já estavam a controlar a chegada das pessoas. Como eu era morador deixaram-me passar”.
“Vivíamos nesta casa mesmo em frente. No andar de baixo”, indicou, acrescentando que a partir do momento em que entrou, nesse dia, pela porta de casa ficou a “assistir a tudo o que se desenrolou” naquela rua pela janela.
“Isto era um mar de gente”, recordou.
“Durante duas ou três noites, se não estou em erro, as pessoas não saíram daqui. Ficaram aqui, sem condições, em pé. Eram civis”. E os militares, continuou a contar enquanto descia a mesma rua, “começaram a tomar posição porque estava a começar a ficar perigoso, visto que os funcionários da PID/DGS estavam lá dentro”.
“Começaram a ver que isto mais tarde ou mais cedo ia dar mau resultado”, porque a multidão “aguardava a saída dos funcionários da PIDE para irem para a prisão”.
As forças de segurança, por isso, “tomaram posição aqui de forma a evitar que houvesse um assalto ao próprio edifício”. Era uma situação perigosa, sublinhou, considerando que os “funcionários da PIDE também tinham armas e cá fora estavam os militares a tentar evitar que as pessoas se aproximassem”.
E parando em frente ao edifício contou como os militares preparam a saída dos agentes da PIDE, com “camiões tipo berliet”. Apesar dos tropas tentarem manter a tranquilidade da multidão “houve apedrejamentos, as pessoas tentavam aproximar-se deles”.
Da janela de casa viu ainda, segundo contou, alguns carros dos agentes da Polícia Internacional e de Defesa do Estado a serem incendiados por civis.
Nos dias seguintes, ainda houve pessoas que se foram manifestar na rua do especialista em Finanças e Contabilidade, hoje com 62 anos, junto ao quartel-general.
“Foi uma experiência in loco”, disse Jorge em tom de brincadeira.
Apesar da ânsia dos civis conimbricenses em querer apanhar à saída os funcionários da PIDE, em consequência da repressão que os próprios representavam, “sentia-se um ambiente festivo”, embora “difícil de explicar”.
“Coimbra já na altura era uma cidade muito jovem”, reconheceu. E recordando aqueles primeiros dias que se seguiram ao 25 de Abril, contou que “algumas pessoas estavam em cima das árvores”.
“Algumas passaram a noite nas árvores, porque era um sítio bom para ver. Ninguém arredava pé. O espaço era caro”, gracejou ainda.
O pai era militar, tinha sido destacado para a Guiné-Bissau, mas naquela altura estava por casa de férias.
“Nunca sentimos receio algum nesse dia. Até porque conhecíamos bem a atuação e dávamo-nos bem com os militares. O meu pai era militar”, explicou. “Era um ambiente diferente, de leveza. As pessoas estavam à vontade, invadiam-nos a casa e depois saíam. Estávamos à janela e estava aqui uma multidão de gente”.
Mesmo no centro da cidade e com a Universidade de Coimbra perto, aquela rua era de habitação para muitos estudantes.
Num distrito um pouco mais acima, no interior do país, a Revolução chegou mais calmamente aos portugueses. Na conservadora cidade de Viseu, foi pela rádio que muitos souberam das movimentações em Lisboa, sem perceber logo que sopravam aí ventos de mudança.
Rosa tinha 10 anos em abril de 1974 e lembra-se “de haver bastante agitação em casa” quando acordou.
“Do que me recordo, não chegamos a ir à escola porque os pais tinham sido entretanto avisados de que não havia aulas nesse dia”, contou, recordando o hábito do pai de ligar o rádio todas as manhãs bem cedo, quando se levantava.
“Por isso ele soube cedo e acordou-nos para nos dizer que não iríamos à escola”.
Rosa e as irmãs mais velhas não foram à escola, mas também não ficaram em casa à espera de notícias, “porque era naquela altura em que, quando não havia escola, vinha toda a gente para a rua brincar, não havia televisão”.
“Vestimo-nos normalmente e viemos para a rua”, revelou, embora não soubesse o motivo porque não havia escola naquele dia. “Havia uma grande incerteza. Em minha casa, a situação era bastante nervosa porque não se sabia o que se estava a passar”.
Aos 60 anos, a Especialista em Avaliação de Ensino Superior reaviva estas memórias salientanto que, naquela altura, era “aquilo que conhecia de mais extremo, de mais diferente”.
À medida que as horas foram passando, as crianças começaram a receber “muitas indicações para não falar, para estar caladas, para não dizer parvoíces”.
“Havia um bocado a sensação de que as coisas tinham mudado, mas que era importante não se falar muito acerca disso. Não havia ainda a perceção clara do que tinha acontecido”, explanou Rosa.
Ainda sem certezas do que tinha acontecido, nos dias seguintes viu que foram “buscar um senhor que vivia perto e que era um dos responsáveis da Mocidade Portuguesa”.
“Era uma pessoa de quem as pessoas mais velhas – nomeadamente as minhas irmãs mais velhas e os amigos delas – não gostavam muito. Era ele que organizava aquelas marchas, em que tinham de ir todos fardados. (…) [Era] quase tipo milícias”, testemunhou. “Lembro-me de vir um carro buscá-lo a casa. E de mais uma vez me ter sido dito ‘não fales nisso’”.
Só soube exatamente o que tinha acontecido na manifestação do 1º de Maio, “onde depois foi organizada uma manifestação, as pessoas manifestaram-se livremente”.
“Não estava de todo seguro de que já se pudesse falar”.
“Para mim essa perceção começou na escola, notou-se logo uma grande diferença a todos os níveis. Começámos a perceber que afinal não era só estar sentado, quieto e calado. (…) Depois havia professores que já eram muito politizados que começaram a falar abertamente sobre isso nas aulas, o que levou muito rapidamente a uma mudança bastante grande dos currículos e daquilo que nós aprendíamos”.
Apesar de Viseu ser uma cidade conservadora, Rosa conta que houve “muitas manifestações” organizadas por pessoas que clandestinamente pertenciam ao Partido Comunista Português e que começaram “a falar livremente”.
“Mais tarde, Viseu foi também palco daqueles movimentos de assalto às sedes dos partidos em que se viam edifícios a arder e coisas a ser lançadas das janelas”.
Não se pode falar do 25 de Abril sem se referir o Alentejo e a “Grândola Vila Morena”. A realidade no sul do país era distinta da que se observava na capital. Não era o epicentro da Revolução, mas a ânsia e o desejo por um país democrático e livre eram os mesmos.
A três dias de fazer 11 anos, Maria Rosa estava em casa, num monte alentejano no concelho de Portel, quando entrou em pânico ao ouvir, na televisão, a canção que marcou o início das operações militares.
“Eu andava na quarta classe, numa escola rural da Atalaia, e tinha uma professora nova. Era o primeiro ano que ela dava aulas”, começou por relatar. “A professora Mariana era muito nova, muito jovem”.
Naquela altura, Maria Rosa e os irmãos tinham sempre aulas ao sábado, onde faziam “outras coisas que não o ensino normal”. As raparigas, descreveu então, aprendiam costura ou croché. Já os rapazes faziam as limpezas do espaço e do recreio, ou tratavam das hortas. “Era sempre um dia diferente”.
No fim de março de 1974, se a memória não lhe falha, a professora Mariana, que tinha o marido no Ultramar, anunciou aos alunos que iam “aprender uma canção nova e que essa canção era um segredo da escola”.
“Um segredo que nós não podíamos dizer em casa, nem cantar a canção na rua”, revelou a atual professora de História, com perto de 61 anos. “E na altura, a palavra do professor era sagrada”. E qual era a canção secreta? Era a “Grândola Vila Morena”.
“Os sábados todos que antecederam o 25 de Abril, a professora Mariana ensinava-nos a ‘Grândola Vila Morena’. Aprendemos a canção de fio a pavio, cantávamos na escola porque ninguém lá estava por perto, porque estávamos num descampado onde só se ouviam as ovelhas ou as vacas”, brincou ainda. “Cantávamos a plenos pulmões a ‘Canção da Professora’, que era assim que a identificávamos”.
“Nós não dizíamos nada em casa”, repetiu. “Aprendíamos ali a canção, mas passando o portão da escola ninguém mais falava daquilo”.
Na quinta-feira em que a Revolução saiu à rua, pela hora do pequeno-almoço, que no monte alentejano da família de Maria Rosa se chamava hora do café, os mais novos quiseram ver desenhos animados. A televisão era a bateria e, como não era fácil recarregar, o tempo de uso diário do aparelho era limitado.
Naquela manhã, aproveitando que a mãe estava lá fora a tratar da horta, Maria Rosa e a irmã mais nova decidiram ligar a televisão antes de irem para a escola.
“A televisão não estava a dar nada. Apareciam imagens estranhas e nós não estávamos a perceber o que era”, estranharam as crianças de então. “A determinada altura a minha mãe vem para dentro e liga o rádio. Ouviu qualquer coisa que nós não percebemos e disse-nos logo que não havia aulas”.
De repente, as irmãs entraram em pânico. “Do nada, a ‘Canção da Professora’ estava a dar na rádio e na televisão”.
“Entrámos em pânico as duas. Era um segredo nosso e nós olhávamos uma para a outra”, descreveu. A questão que as assolava era: “Quem é que falou na ‘Canção da Professora’? Quem é que teve a ousadia de deixar que a canção passasse na rádio?”.
“Tínhamos um mundo tão pequenino que nem conseguíamos perceber que era possível que a música que estávamos a aprender podia estar numa dimensão muito superior, num meio de comunicação. Para nós aquilo era um segredo só nosso, restrito ao nosso sítio, restrito àquela professora e àqueles alunos”.
No meio da agitação que sentiam, as duas crianças começaram a acusar-se mutuamente de terem denunciado a professora Mariana e a canção alegadamente secreta.
“A minha mãe veio ver o que se passava, que gritaria era aquela. E tivemos de contar que a professora Mariana nos tinha ensinado aquela canção que agora estava a passar na rádio e na televisão”, contou ainda. “Já pensávamos que tinha sido um colega qualquer a contar”.
Do 25 de Abril, o que recorda com carinho é “a ingenuidade, esta forma de olhar para as coisas”. Os horizontes que tinha, confessa, “eram extremamente curtos”.
“Não tínhamos a noção de nada”, disse ainda.
De Gândra a Elvas
Há 50 anos, os meios de comunicação eram mais escassos. Nem toda a gente tinha telefone ou uma televisão em casa, os rádios não estavam sempre ligados e os contrastes entre regiões do país eram notórios.
Na freguesia de Gandra, mais a norte de Portugal, a notícia de que havia uma revolução não chegou logo de manhã. Tudo indicava ser um dia normal para Maria, que só “soube da revolução na escola”.
“Chegámos à escola e mandaram-nos embora porque não havia aulas. E depois estivemos em casa uns dias”, começou por contar, admitindo que o 25 de Abril quase que lhe passou despercebido. “Disseram-nos que não havia aulas porque os professores não apareceram, mas não explicaram porquê”.
Como “em casa não disseram nada”, a adolescente de 14 anos continuou sem saber o verdadeiro motivo daquela pausa letiva. Todavia, confessa que “ficou contente” por não ir à escola uns dias.
Só uns dias depois, quando regressou às aulas, é que se apercebeu “que havia qualquer coisa de diferente”.
E rindo-se, acrescentou: “depois os alunos é que mandavam nos professores e era isso que eu achava estranho”.
“Se não queriam aulas, não tinham aulas. Se não queriam aquele professor, não tinham aquele professor. E achávamos piada áquilo”, continuou.
“Ficámos fechados no quartel, não se podia sair. E tinham lá a televisão ligada e só se ouviam marchas militares, mas não havia uma explicação qualquer”, explicou. “Só quando transmitiram o primeiro comunicado é que ficámos a saber. Mas ficámos todo o dia ali fechados”.
Em Lisboa os militares marcavam passo, mas para os tropas destacados em Elvas “era impensável sair” porque estavam “de prevenção” até serem chamados “para um serviço oficial”.
Começaram por ouvir que havia “uma marcha por Lisboa”, mas para seu lamento o “comandante era de gancho” e não deixava os milicianos “ouvir as notícias”. António e os restantes soldados não sabiam “o que pensar” sobre o “pouco que sabiam”.
Havia, contudo, um motivo para a prevenção: “o Forte de Elvas era uma prisão militar [e política], onde estava inclusivamente Saldanha Sanches”.
Os dois jovens naturais de Gandra tiveram consciência dos acontecimentos e dos tempos de mudança já mais perto do 1 de Maio. António admite até que pouco mudou na freguesia depois do 25 de Abril e que as mudanças eram lentas a chegar.
“Os pais continuavam a fazer o que a Igreja mandava. O padre mandava. Tudo continuava praticamente igual”, comentou.
E a irmã acrescentou que, mesmo passando a haver eleições democráticas, ainda “era o padre que dizia em quem se devia votar”.
“O padre dizia-nos: ‘não votem nos comunistas’”, sublinhou Maria.
Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos com programa alargado
Marcelo Rebelo de Sousa segue depois para a Assembleia da República, a partir das 11:30, para assistir e encerrar a tradicional sessão solene comemorativa da Revolução dos Cravos.
Para assinalar no parlamento a passagem de meio século sobre o golpe de estado que pôs fim à ditadura de Oliveira Salazar e Marcello Caetano, o PS, Chega, Iniciativa Liberal, BE, PCP e Livre escolheram os seus líderes para discursar.
O PSD, partido presidido pelo atual primeiro-ministro, Luís Montenegro, que assiste mas não discursa na sessão, tomou uma opção diferente e vai colocar na tribuna de oradores a jovem deputada Ana Gabriela Cabilhas, de 27 anos.
No caso do CDS-PP, força política liderada pelo ministro da Defesa, Nuno Melo, foi designado o presidente do grupo parlamentar, Paulo Núncio.
Como é habitual, as intervenções vão seguir a ordem crescente de representação parlamentar cabendo o primeiro discurso à deputada do PAN, Inês de Sousa Real, seguindo-se Paulo Núncio (CDS), Rui Tavares (Livre), Paulo Raimundo (PCP, Mariana Mortágua (Bloco de Esquerda), Rui Rocha (Iniciativa Liberal), André Ventura (Chega), Pedro Nuno Santos (PS) e Ana Gabriela Cabilhas e terminando com o presidente do parlamento, José Pedro Aguiar-Branco, e de Marcelo Rebelo de Sousa.
No final da sessão solene, o Presidente da República desloca-se ao Salão Nobre do parlamento para uma visita à exposição, intitulada, "A Nós a Liberdade", organizada com a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva e que foi oficialmente inaugurada na terça-feira.
À tarde, o parlamento abre portas ao público para um programa gratuito que inclui exposições, teatro e música.
O primeiro-ministro assinala também o aniversário do 25 de Abril num almoço com 50 jovens de diversas áreas, da cultura ao desporto ou ao voluntariado, na residência oficial de S. Bento, que estará aberto ao público a partir das 15:30 com um programa cultural que incluiu uma atuação musical de António Zambujo.
O Presidente da República vai abrir Palácio de Belém ao público e estará, a partir das 18:00, numa cerimónia com os seus homólogos dos países de língua e expressão portuguesa no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, que além da revolução em si celebrará a independência daqueles países. Nesta sessão estará também o primeiro-ministro.
À tarde decorrerá o habitual desfile na avenida da Liberdade, que juntará líderes políticos e este ano contará com a presença, simbólica, do presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar Branco.
O Terreiro do Paço vai ser um ponto central das comemorações oficiais, acolhendo a partir das 09:40 uma recriação histórica da "Operação fim de regime", iniciada no dia anterior na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém.
Uma réplica da coluna comandada pelo capitão Salgueiro Maia, que há 50 anos saiu de Santarém rumo a Lisboa, chega ao Terreiro do Paço a tempo de desfilar perante Marcelo Rebelo de Sousa e restantes entidades.
As antigas viaturas do Exército irão permanecer no Terreiro do Paço até às 12:00, proporcionando a interação dos cidadãos com os militares de Abril presentes.
Marcelo acredita que Portugal deve assumir responsabilidades sobre crimes cometidos na era colonial
Foram muitos os homens e mulheres que participaram na Revolução de Abril
25 de Abril. Os portugueses que encontraram no exílio a fuga à ditadura
A sua saída deu-se em 1966. Tinha 20 anos e a determinação em virar costas ao regime ditatorial de Salazar levou-o a atravessar a fronteira até Londres, onde tentou pedir asilo político. A aventura, porém, começou mal, já que a Inglaterra não reconhecia, na altura, os portugueses refratários ou desertores, que saíam de Portugal por motivos da guerra colonial, justificando-o com o facto de ambos os países serem membros da NATO.
O plano teve, então, de mudar: “Contactei os meus amigos que eram daqui de Portugal, da escola secundária e que já estavam na Holanda. Eles informaram-me que, à partida, o Governo holandês reconhecia os portugueses que fugiam da guerra e dirigi-me para lá”, conta Rui Mota.
Agora com 78 anos, este antigo exilado lembra bem a sensação de recomeçar a vida num lugar estranho, mas também a convicção de que essa era a escolha certa e, acima de tudo, a única possível para si.
“Não fiquei muito angustiado por ficar por tempo indeterminado no estrangeiro. Desde logo porque não queria fazer a tropa e a guerra colonial que estava implícita e, portanto, a escolha era fácil entre ir para África combater por um exército colonial e ficar exilado por tempo indeterminado”, explica.
“Para mim, a escolha foi sempre muito fácil desde o início: o exílio era preferível a ir alistar-me e ir para a guerra em Angola, Guiné, Moçambique, o que fosse na altura. Portanto isso para mim nunca constituiu um grande problema”.
Apesar de nunca saber “quanto tempo é que teria de ficar no exílio - podiam ser meses, anos – (…) estava de alguma forma mentalizado para ficar o tempo que fosse preciso”, conta.
Acabou por ficar, inicialmente, oito anos. A 25 de Abril de 1974, estava a caminho das aulas quando recebeu a notícia: um golpe de Estado tinha deitado abaixo o regime opressivo que há décadas ensombrava Portugal.
A primeira reação não foi, no entanto, de alívio, mas sim de “uma certa incredibilidade”. “Eu pensei - eu e a maior parte das pessoas que estavam exiladas como eu - que era mais um golpe ou uma tentativa de golpe militar da chamada direita”, recorda Rui Mota.
“Houve ali umas horas de expectativa para sabermos se realmente era um golpe militar progressista ou não, e só ao final do dia 25 de Abril é que percebemos que realmente se tratava de um golpe democrático e que, portanto, o governo fascista tinha caído ou estava em vias de cair”.
Depois de várias entrevistas dadas a órgãos de comunicação neerlandeses, foi a hora de pensar em fazer as malas. Rui voltou a Portugal no verão e sentia ainda “uma certa tensão no ar”, pelo que a estadia não durou muito tempo.
“Dado que a situação ainda era muito periclitante e não se sabia muito bem no que é que iam dar aqueles movimentos sociais, e também porque não tinha preparado o meu regresso a curto prazo, não quis arriscar. E, uma vez que já tinha uma situação relativamente estabilizada na Holanda - já lá vivia há oito anos, tinha uma bolsa de estudo, tinha relações sentimentais - optei por ficar lá, terminar o curso primeiro e só depois, mais tarde, regressar”.
“Comecei a ser vigiado”
Para Joaquim Saraiva, o motivo de saída do país foi idêntico: “Eu era completamente contra a guerra colonial e também contra o sistema vigente em Portugal. Só pelo facto de ter algum contacto com alguns amigos meus que eram do [Instituto Superior] Técnico, comecei a ser vigiado”, começa por contar à RTP. O IST, em Lisboa, era então palco de vários movimentos estudantis antifascistas.
“Eu mais três amigos decidimos deixar o país e pedir asilo. Tinha um conhecimento na Suécia e eu ia para Malmo. Essa decisão deveu-se ao sistema vigente, à falta de liberdade de expressão, ao facto de qualquer atividade associativa ser problemática”.
“Quando queríamos conversar um bocado à vontade, tínhamos que nos afastar dos sítios normais, do café… porque havia sempre a desconfiança que houvesse o que se chamava na altura ‘os bufos’, que acabavam por denunciar qualquer conversa que ouvissem contra o sistema”, recorda.
A partida não aconteceu, no entanto, da forma que esperava. No dia 28 de abril de 1970, com 20 anos acabados de fazer, Joaquim acabou por ter de atravessar a fronteira a salto sozinho, já que os seus três companheiros desistiram – um deles na noite da véspera.
“Foi um choque, porque é completamente diferente irmos acompanhados com amigos ou nem que fosse mais um amigo do que ir sozinho para um desconhecido”, confessa.
“Hoje ninguém tem noção que sair de Portugal era muito complicado naquela altura, sem documentação, sem passaporte, sem licença militar. E para quem nunca tinha saído aqui da zona de conforto - eu era da zona de Benfica e pouco mais conhecia do que Lisboa - dar um passo daqueles no escuro… Foi muito difícil, só quem viveu esse período é que poderá contar as dificuldades que eram”.
A 2 de maio chegou à Suécia, num comboio que apanhou em França, com um passaporte falso. Ia mentalizado para poder ter de ficar no país nórdico durante meses, anos ou até décadas. Quando lá chegou pediu asilo político mas, tal como aconteceu a Rui Mota em Londres, o pedido foi recusado. A polícia sueca colocou-o, então, na Dinamarca, onde voltou a fazer o pedido, desta vez com sucesso.
“Fui o primeiro português a chegar à cidade onde estava, que era a segunda maior cidade dinamarquesa, Aarhus. Depois começaram a chegar mais portugueses e nós organizámos um comité de apoio aos desertores e desenvolvemos atividades de luta para a favor dos povos das colónias”.
Teve conhecimento do golpe militar em Portugal quando chegou ao trabalho no dia 25 de Abril. “Nesse dia não se consegue imaginar: só se esperava que acabasse o dia de trabalho para me poder encontrar com o resto dos companheiros, para discutirmos e saber mais notícias do que se passava em Portugal”, relembra.
Também à semelhança de Rui Mota, este exilado teve dúvidas quanto ao que se passava. “Aquelas caras, aquela Junta de Salvação Nacional, deixavam-nos um bocado duvidosos porque tínhamos a experiência do que se tinha passado no Chile no ano anterior, com o golpe do Pinochet. Sentíamos a preocupação de saber mais coisas para ver se em Portugal não se iria passar a mesma coisa. Felizmente que não”.
Assim que as notícias se confirmaram, não teve dúvidas. “A decisão sempre esteve tomada de que, assim que fosse possível regressar a Portugal, regressava-se. Era todo o objetivo quase. Foi uma debandada, porque éramos quase todos desertores, refratários que estávamos ali na Dinamarca e estávamos todos ansiosos para, assim que pudéssemos, regressar a Portugal”.
Para Joaquim, esse regresso aconteceu em junho de 1974.
As mulheres exiladas
“Um exílio querido”. É assim que Merita Andrade, agora com 80 anos, classifica a sua saída de Portugal, em 1971. Namorava com “um rapaz que não queria fazer a guerra” e que, por isso, saiu do país. Por amor, Merita seguiu-o.
“Era um exílio, digamos, querido, um exílio ao qual eu aderi por vontade própria”. Como mulher e, portanto, isentada do serviço militar, conseguiu sair mais facilmente. “A saída de Portugal para mim não era difícil. Eu ia no comboio normalmente, como toda a gente - tinha de levar passaporte, mas pronto, íamos de comboio e passávamos as fronteiras normais”, explica.
Foi nesse comboio que chegou a Grenoble, mas todos os anos vinha a Portugal de carro. “Aí era mais complexo, porque trazíamos as coisas escondidas no carro. Vínhamos com livros contra a ditadura. Eu fazia parte de um grupo que não era propriamente o grupo do governo português nesse ponto, e portanto algumas dessas viagens a Portugal foram complexas”, recorda.
Em França, a ideia era ficar pelo tempo que fosse preciso, até que a ditadura acabasse. Quando chegou o 25 de Abril, ia a caminho da escola onde dava aulas de português. À saída de casa encontrou um amigo que a impediu. “Não vais nada para a aula, hoje vamos festejar”, disse ele. “Festejar o quê?”, perguntou Merita.
Sem televisão em casa, não tinha visto ainda as notícias sobre Portugal. Assim que soube, os planos para o dia – e para os tempos seguintes – alteraram-se. “Realmente já não fui dar a aula. Voltei para casa a dizer ao Zé Carlos (então seu namorado) ‘olha, está uma revolução em Portugal’, e ninguém queria acreditar”.
Foram a correr pela vizinhança, onde viviam vários portugueses fugidos à guerra, para dar a boa nova. Nesse dia “já não houve trabalho para ninguém”. Começaram então os planos para o regresso a Portugal, que para Merita não pôde ser imediato, pois estava grávida.
O companheiro, que tinha ido para Portugal pouco depois da revolução, regressou para o nascimento da filha. Voltaram depois, já com a família completa, e fizeram a festa da liberdade em Vila Nova de Ourém, para onde foram viver.
“Eu e ele fazíamos parte de um movimento revolucionário, digamos. E tínhamos encontros, reuniões com muita gente desse movimento e, portanto, não era propriamente uma festa contínua, mas encontrávamo-nos muitas vezes nas reuniões e falávamos disso”, afirma.
Foi nesses encontros que discutiam o que poderiam fazer por Portugal, já que “o país estava com necessidade de que houvesse uma grande revolução cultural e até de instrução”.
Uma peça-chave da revolução
A revolução fez-se em Portugal, mas não teria sido a mesma sem aqueles que estavam lá fora. “Eu penso que o papel [dos exilados], apesar de passivo, no sentido em que não estávamos diretamente ligados ao país - estávamos a viver no estrangeiro, portanto, não era uma atividade explícita - foi bastante importante no sentido em que nós estávamos organizados”, considera Rui Mota.
O antigo exilado explica que grande parte dos desertores e refratários estavam organizados em comités, organizações sociais, coletividades, associações, órgãos de comunicação. “E aqueles mais ativos, que eram uma minoria, objetivamente, estavam frequentemente nas notícias holandesas. Davam entrevistas, eram chamados a colóquios, à televisão, à rádio, etc. Eu próprio dei uma série de entrevistas durante aqueles anos em que estive exilado”, conta.
“Porque na Holanda, na altura, existia um grande movimento anticolonial, não só relativamente às colónias portuguesas, mas relativamente ao Vietname, à guerra da Argélia, etc. E, portanto, os holandeses estavam muito empenhados nessa altura e havia comités de solidariedade muito fortes que divulgavam as lutas anticoloniais, entre elas as portuguesas”.
Para Joaquim Saraiva, os exilados tiveram “uma quota-parte para que fosse possível o 25 de Abril naquela altura”. Uma das razões era o facto de a ausência desse grande número de portugueses provocar falta de mão-de-obra, o que, por sua vez, agravava o descontentamento em Portugal e contribuiu para acelerar o processo revolucionário.
Merita Andrade acredita que o grande número de desertores e refratários ajudou a esclarecer a opinião pública. “Já ninguém queria aquela guerra colonial, já ninguém acreditava naquilo e, portanto, a revolução era qualquer coisa que vinha trazer a mudança”, frisa.
Depois do 25 de Abril, muitos dos exilados que iam regressando continuavam a ter um papel ativo e fulcral para o pós-revolução. “Ainda me lembro que em Ourém, que foi onde eu vivi quando viemos de França, a gente sentia na população em geral uma vontade de fazer coisas a favor dos ditos pobres da altura, das pessoas que não eram fascistas”.
Nesse sentido, fez alguns cursos de alfabetização e, como assistente social, chegou a acompanhar casos “muito dramáticos” de crianças. São tempos que lembra com tristeza e que espera que não se repitam. “Que a Revolução dos Cravos te mantenha forever. Que a gente nunca mais volte atrás”, espera.
Entrevista RTP. Marcelo diz que persistência de "pobreza" na sociedade é o maior fracasso dos últimos 50 anos
É esse o principal fracasso que o presidente da República aponta quando questionado sobre os últimos 50 anos, ainda que seja uma pobreza diferente à que existia anteriormente. O chefe de Estado menciona também o envelhecimento da população portuguesa.
Na entrevista a António José Teixeira, gravada no Palácio de Belém na última terça-feira, Marcelo Rebelo de Sousa recordou como viveu os dias da revolução. Na altura, como jornalista do Expresso, sentia os efeitos da censura e integrava-se em grupos onde se “conspirava para a democracia, a descolonização e a integração na Europa”, incluindo também a SEDES.
A nível familiar, recorda que se vivia, na altura, com “o relacionamento familiar que era possível estando em lados diferentes”. Baltazar Rebelo de Sousa, pai do presidente da República, era à época ministro das Colónias de Marcelo Caetano.
Marcelo recorda que, a poucos dias do 25 de Abril, o pai já tinha noção do desgaste do regime. Quando tiravam uma fotografia em família, a 16 de Abril, o pai do presidente já se via como “passado”.
O chefe de Estado, na altura jornalista, também tinha essa noção. “Não pressentia, sabia”, referiu nesta entrevista, recordando os contactos que havia com o general Spínola. Tudo não passava de uma questão de “acerto de datas” e estava-se atento ao que aconteceria “mais semana menos semana”.
Do lado do regime, a informação era “nula”. “Sabia que havia um movimento, não controlava o movimento, mas a própria polícia política não teve a noção”, algo que atribui ao “talento do Movimento dos Capitães” e à “amplitude das ligações e da organização”.
A 25 de Abril, contou a organização dos militares mas também o “apoio popular”, assinalou Marcelo.
“Implantar uma democracia demora tempo”
Marcelo Rebelo de Sousa fez, neste entrevista, um balanço positivo dos 50 anos da Revolução. Considerou que a “liberdade” e a “democracia” são as principais conquistas de Abril, muito pela emancipação que trouxeram.
Sobre o futuro, o presidente da República considerou que uma “sociedade democrática e livre é dinâmica, portanto muda”.
Apesar da pobreza persistente, Marcelo Rebelo de Sousa argumentou que o país “mudou muito” em 50 anos, mas que “implantar uma democracia demora tempo”.
Nestas últimas décadas, Portugal passou rapidamente por várias transformações. “Fizemos tudo ao mesmo tempo, terminámos um império de cinco séculos, terminámos uma ditadura de 50 anos, criámos um estado com liberdade e democracia”, com várias mudanças económicas e uma veloz integração na Europa, nomeadamente com a integração na Zona Euro.
“Em 12 anos fizemos o percurso que grandes economias fizeram em 40”, ressalvou.
Destacou, como positivo, o “juízo global” dos portugueses que continuam a considera que o 25 de Abril “valeu a pena”, ainda que discordem de “milhentas coisas”.
Com uma opinião “esmagadoramente favorável” aos ideais de Abril, Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu que este é um trabalho “imperfeito e inacabado”, sendo que o mundo “mudou muito” e os desafios de hoje “são completamente diferentes”.
“A tarefa dos mais jovens é serem insatisfeitos, quererem muito mais e muito melhor”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa sobre as gerações mais novas.